quinta-feira, 21 de abril de 2011

Paixão e futebol

Dos meus pais herdei um senso crítico sobre trabalho que carrego todos os dias comigo, quando converso com um aluno, quando entro em sala de aula, quando inicio uma pesquisa . Dos dois, dos dois mesmo, herdei também uma paixão controlável pelo Fluminense. Não brigo, não xingo ninguém, mas sofro, sofro profundamente. Essa coisa de sofrer herdei do meu pai. O mesmo jeito de torcer e bater no braço do sofá da sala, de sentar-se na beira e colocar as mãos na cabeça! Minha mãe é mais contida, pergunta quanto está o jogo, e de vez em quando solta um “ih...”.
Ontem, dia 20 de abril de 2011, eu estava na minha sala, meu pai, com certeza na sua. Separados por, aproximadamente, 1.800 km, estávamos unidos pela paixão por um escudo, por uma camisa, por um clube. E que jogo pude ver ontem pela TV! E como sofri.
Argentinos Juniors e Fluminense foi uma dessas partidas épicas que deveriam ser registradas no imaginário do coletivo dos adoradores do futebol – sem preconceitos. Como foi é célebre virada, que me orgulho de ter assistido na mesma sala em que meu pai viu ontem o jogo histórico do nosso time, do Vasco sobre o Palmeiras em 2000.
A Antropologia, a Sociologia, a História, a Psicologia... todas tentam explicar essa paixão ardente que nos faz prometer, jurar a deuses desconhecidos se a vitória nos for dada! Que nunca fez isso?
Curioso como me fez falta estar com meu pai, alguém que me acompanhou nas derrotas e vitórias tricolores. Como a fatídica disputa de pênaltis na semifinal contra o Boavista esse ano – último jogo que assisti no Rio antes de voltar das férias e estávamos lá, os dois, sentados com suas camisas, belas camisas tricolores! Voltamos derrotados, mas vitoriosos na relação pai e filho! Minha mãe, como sempre, riu e soltou seu “Ih...”.
Uma coisa curiosa, apesar de um agnóstico teísta convicto, é uma possível analogia entre o Fluminense e um sentimento de sofrimento, culpa até, herança de um cristianismo católico de penitência, de sofrer até o último momento para conseguir a redenção! Nessa semana santa, acho que a vitória tricolor e a classificação (cuja chance era de 8% apenas) foi mais que um milagre, foi, sinceramente, o sobrenatural de Almeida!
Definitivamente, o futebol, assim como a vida é, realmente, uma caixinha de surpresas

quarta-feira, 16 de março de 2011

O Cordão dos Bate-bolas (Lembranças de um Carnaval)


Aqui no circo
Todo mundo grita:
- Iu-ri!
E todo mundo ri.
Pense no que “dé”
Borá?
Simbora, bate-bola!
Bate pé!
É supimpa essa vida de palhaço
Nessa linha que eu traço
Como a palma de uma mão.
Respeitável público
Lá vem Papai Sacudo e Zé Peido
Baixo astral esse sujeito
Que não curte se lavar!
- Ô papai me dê um cheiro?
Pois a vida e o picadeiro
Ainda tem muito a ensinar
E tem dias que no D.I.A.
A inspiração não quer chegar.
E se o trem vive lotado
A gente chega para o lado
Pede a São Palhaço pra viagem abençoar.
Mas se o santo não atende
A gente até entende
E se esforça pra chegar.
Mas se tudo der errado
‘Tá tudo acabado
Só nos resta gargalhar!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Lembranças

Serei rápido, já está muito tarde (ou muito cedo). Acho que tudo que tenho a dizer está aqui: http://retropleco.blogspot.com/2011/02/lembrancas-cariocas-aquilo-que-voce.html


Abraço

domingo, 9 de janeiro de 2011

Perdido

Com um certo constrangimento se beijaram como que dizendo adeus. Lá longe era possível ver, calmo, o Pão de Açúcar iluminado. As ruas movimentadas, tantos rumos, tanto nada... tudo em vão. Vão sentimento. Aquele constrangimento.
E num segundo só, tudo fez-se festa. Fez-se novo. Uma velha possibilidade de rever o passado como um presente vivo.
Tudo tão leve, tão leve como a menina de vestido branco. E ele ali parado com um certo constrangimento. “Tudo que nos separava subitamente falhou”. Como um louco no centro do Campo de Santana, foi rasgando, desfolhando “Regufitorfagia” do Melamed, deixando as folhas indo com o vento, percorrendo a Presidente Vargas, cortando suas transversais. Indo longe, longe. Sofrendo uma quebrada para a Rio Branco, percorrendo toda avenida, sofrendo mais um desvio, entrando na Arlequim, junto com uma menina de vestido branco, saindo pelo Paço, voando. Tragada pelo sumidouro do mergulhão da Praça XV... Uma folha se perde nos chafariz da Candelária, outra cai nas mãos de um poeta de porta do CCBB. Mas outra sobe a 1º de Março e segue, segue até o Passeio, onde, ao lado, na Praça Mahatma Gandhi era possível ver, calmo, o Pão de Açúcar.