segunda-feira, 11 de outubro de 2010


Entro afoito nos minutos vazios da página em branco. Tenho 24 horas por dia, mas quase não olho o relógio. Os livros sobre a mesa – são tantos. Devo lê-los com a mesma necessidade que como, que bebo, que cago... Mas é só à noite que tenho espaço para os meus pensamentos, há tempos eles me sufocam. Não me sinto perseguido pelo tempo. O tempo é o vento da alma.
Àquelas frases de efeito brindo com um copo de sentimentos. Ouço os passos no apartamento de cima. Respiro o cigarro do apartamento de baixo. As cadeiras são arrastadas por rostos que não consigo nem descrever. Os livros repousam sobre a mesa. Vejo mais um filme do Woody Allen na TV e penso como seria viver em Manhattan. Esqueço. Não, eu não conheço Manhattan. Conheço bem a Central do Brasil, a rodoviária, o camelódromo da Uruguaiana. Os caminhos que me levam do Campo de Santana até o Largo da Carioca a pé. Consigo desenhar um mapa da loja de discos no sobrado da 7 de Setembro. Esqueça.
Mas ontem mesmo sonhei que caminhava pelas ruas de barro da Ilha de Paquetá. Sonhei que via lá longe as torres da Reduc cuspindo fogo pro ar. Sonhei em escrever uma carta longa, profunda, com muitos neologismos, implorando ao prefeito da cidade do Rio de Janeiro que olhe por Paquetá. A Paquetá da nossa infância. Pedir a ela que tombe o Biscoito Globo. Que cuide das Cutias e preserve as coisas típicas dos cariocas. Esqueço. Pois entro afoito nos minutos vazios da página em branco e tenho pouco, muito pouco tempo para tentar falar o que sinto.
Those mistakes we make in everyday life. And life becomes a torture. So I think everything I say is in vain that sheet of paper that involves bread. But, by God, how I wanted to write in English. How I wish I knew Manhattan. See your lights, drink in its bars, listen to their songs. Forget.

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