sexta-feira, 2 de abril de 2010

O cemitério de Paquetá

Quero a sorte de uma morte branda
Não tão velho
Nem tão criança
Sem capa ou obituário em jornal
Não quero ser nome de rua
Estátua em praça pública
Pois no fim só importa o caixão
Nem velório eu quero
É ofuscante a todo defunto
Alguém que chora mais alto
Do que o corpo estático na mesa
No fim das contas
É terra, verme e terra
Talvez um culto
Uma zuela tocada num terreiro
Uma missa do galo
Samba o dia inteiro
Não interessa
Eis que a carne apodrece
O corpo incha
E o sangue estanca
Assim como as lágrimas
O sangue estanca
Se uma cigarra cantar
Já vou feliz
Nem tão velho
Não tão criança
E se der
Que me deixem o corpo
No cemitério de Paquetá.

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