segunda-feira, 29 de março de 2010

Poesia velha

Entendi que o quanto
É o longe posso estar
É como ver o mar e não molhar os pés
Pois poesia nova
É um velho sentimento que a gente coloca no papel
E repreende a letra de forma torta
Para no futuro entender o que escreveu.
Entendi o quanto
Já passou o amarelo do papel
Que desgraça de pintura
Quem escolheu o azul do céu?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Acesso livre aos cadeirantes!

Não, não gosto da novela das 8 e não acompanho. Também não sou nenhum porta estandarte de causa alguma, seja ela humanitária ou não – não sou hipócrita, penso no bem comum desde que o bem comum me inclua nele. Quando não me inclui tento me incluir e fazer minha parte. Por isso ontem fiquei muito estressado quando fui ao shopping comprar um liquidificador.
Por não ter carro, carrinho de rolimã, bicicleta, skate, ter medo de andar de taxi em Aracaju (pegue um e entenderá o que estou dizendo) e ser um dos muitos que engrossam as fileiras de críticas ao transporte público daqui, vou sempre à nave espacial de compras caminhando. E ontem não foi diferente. Porém, ah, porém!
A entrada que utilizo é um portão que fica próximo ao Habib’s, especificamente, do lado esquerdo, sentido quem vem da Marieta Leite. Se localizou? Não? Não interessa... Enfim, vamos ao fato, se um cadeirante (pessoa que utiliza cadeira de rodas para se locomover, seja lá qual for o motivo) for via Marieta Leite para o shopping, ele cruzará um sinal, atravessará a ponte, cruzará outro sinal e se tiver sorte conseguirá subir a calçada (se não for atropelado por algum motorista maluco que avance o sinal, como quase aconteceu comigo ontem) e entrará pelo portão a que me refiro. Ponto para o cadeirante, que também é um consumidor como eu, compra liquidificador como eu, vai ao cinema como eu e tem direito de ir e vir como eu. Porém, se fosse ontem, ele ia se deparar com um carro parado justamente na frente da rampa de acesso para o estacionamento! Deixa eu explicar melhor, se o cadeirante conseguisse vencer todos esses contratempos que eu venci para chegar naquele ponto ali, ele não conseguiria entrar no shopping, cruzar o estacionamento, pois um BABACA colocou o carro bem em frente a rampa! Aliás, se o carro não tivesse ali, o cadeirante também correria o risco de não chegar até a porta do shopping, pois poderia ter sido atropelado no estacionamento, já que a grande maioria dos motoristas acha que aquilo dali é pista de kart.
Enquanto eu, que não sou cadeirante, passava pelo portão e desviava do carro que estava na frente da rampa, avistei dois seguranças do shopping na porta de entrada e muito puto, disse o seguinte: “boa noite meu amigo, escuta, tem um Siena verde parado bem na frente da rampa de acesso para cadeirante, isso é um absurdo, para nós passarmos já foi difícil, imagina para alguém em uma cadeira de rodas?”. O segurança agradeceu e disse que já iria ver...
Já dentro do shopping, procurando um liquidificador que se adequasse ao gosto da minha esposa e do meu... ouço pelo sistema de som da nave de compras: “Senhor proprietário do Siena placa (alguma coisa que não lembro), favor se dirigir ao veículo pois se encontra estacionado irregularmente...”. Sorri feliz: fiz algo pelo bem comum.
Ah, sim, comprei um ótimo liquidificador.... e voltei a pé para casa!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Após um dia...

Hoje postei no Twitter que o dia seria cheio – veja que não disse longo e sim cheio. E foi. E agradável por sinal. Tenho um tempinho agora para atualizar a prosa por aqui com você que me visita. Na verdade, minha ausência se explica, pois tenho escrito mais no tal Twitter. Enfim... Já coloquei as roupas no varal, um vinil toca na vitrola, um chá de maçã, cravo e canela esfria na xícara ao meu lado e vamos ao papo.
É curioso como ouvir o disco The Queen Is Dead em vinil me remete à infância... sobre ele escreverei em breve no Retropleco, porém, mais inusitado ainda é ouvi-lo aqui em Aracaju tomando chá! Chá meu amigo! Eu disse chá! Prática que iniciei em idos longínquos na maravilhosa Cavé, no Rio de Janeiro. Lembro-me de sair das aulas do mestrado e (depois do doutorado) e sentar-me, ora sozinho, ora com um amigo e papear até a noite cair. E dá-lhe chá, lá e aqui. Enquanto falo isso o suor escorre da testa, apesar, de um vento agradável entrar pela janela do meu escritório. Aliás, Aracaju tem uma peculiaridade que lhe dá um charme especial: a brisa. Um ventinho gostoso que bate quando você começa a ficar puto e pensar em pegar as coisas e ir embora. Aí vem a brisa e você pensa: “bom, se eu voltar para o Rio de Janeiro, estará um calor mortal onde eu morava e sem vento nenhum...”. Sossego.
Mas não vou falar da saudade do Rio, dos amigos, dos pais, do cheiro das árvores do meu quintal.
Hoje, após o café da manhã (com chá e torrada), fomos ao banco, eu e a esposa. Colocamos tênis de caminhada, bermudas e camisetas leves e partimos como andarilhos num céu azul e de sol amarelinho, amarelinho... Muito protetor solar no quengo e fomos nós por entre ruas e avenidas de Aracaju.
Uma das coisas que mais fazemos aqui é andar. Andamos nós dois sempre pensando, cada qual com seu pensamento. Algumas vezes eles se encontram. Sorrimos. Outras vezes são segredos que morrerão com cada um dos dois e seguimos. Pois caminhar faz bem a cabeça.
Nesse Dia Internacional da Mulher. Não fiz nada mais do que estar ao lado. Sorrir. Um amigo ligou perguntando se queríamos ir ao cinema. Estou atarefado preparando minhas aulas para a UFS e ela queria ir à academia malhar. E desceu ela e fiquei eu aqui. Chá adoçado com mel, The Smiths e uma pilha de texto para adicionar no meu plano de curso. Feliz Dia Internacional da Mulher...

sexta-feira, 5 de março de 2010

POemAS


Hoje eu acordei meio maiakóvskiniano
Não me digam eu te amo
Não me peçam favor
Quem sabe enfiarei uma bala no peito
A morte é um receio
Que me provoca calor

O
calafrio oco calorfrio



Hoje abrirei bala laica
Recitarei Balalaica
Da Cia For No
Ai, hoje acordei meio maiakóvskiniano
Talvez, o maior dano
Seja esse forte calor

segunda-feira, 1 de março de 2010

Acho que as pessoas tem medo da tristeza. Creio que é algo natural e normal. Temo é pelas pessoas não aceitarem a tristeza. Então, quando digo que estou triste é um alarde. “Mas por quê?” “O que houve?”. Aquele senso todo de proteção, vontade de ajudar, de te fazer sorrir. Perdão, às vezes não dá. Às vezes você realmente está para baixo e quer cair um pouco mais. Acha chato o céu azul. Daí, então, as pessoas também não percebem que você não quer preocupar ninguém, muito menos quer estragar o céu azul e a noite estrelada dos outros. Pois há esse equivoco entre tristeza e amargura. Amargura é você querer que todo mundo seja sombrio como você. Tristeza é tristeza e só. Lógico que é bom saber que outros se preocupam contigo, além da sua família. Mas nem toda tese de “preciso de atenção” ou “quero atenção” é verdadeira. Falo por mim, claro. Não quero paparicos, às vezes quero silêncio, vinho, livro e incenso. Não quero palavras de reconforto, às vezes quero música, sofá e cama. Está certo que o céu azul e o mar são convidativos. Mas chuva e céu cinza são aconchegantes. Está certo que o dia é vivo. Porém, a noite tem lá seus mistérios. Acho que sou um mau amigo, não? Mas eu sou assim. É piegas dizer, mas muitas vezes o silêncio fala mais do que as frases de efeito. Nem todo mundo é feliz. Mas tem gente que quer ficar triste um pouquinho, pois, às vezes, isso traz autoconhecimento que por sua vez traz a felicidade...


Ps. Para você que me escreveu, muito obrigado. Do fundo do coração, muito obrigado.