sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A tristeza de um folião...

Cordão do Boitatá 2009 - Thiagão no fundo, eu no centro e palhaço desconhecido no braço - Foto da Preta


Acho que anda ficando evidente: tristeza. Muita coisa boa, sem dúvida. Mas a tristeza vem como vento, às vezes. Você se desvia, mas tudo te faz lembrar de um momento, de um período, de um segundo exato, quase que parado nas teias do tempo. Comovente, não?
“A memória é seletiva” sempre disse a Preta. Menos mal, para onde olho aqui, não lembro do carnaval que cresci vendo. Só ouço a palavra. É carnaval. Porém não é meu carnaval, nem pior ou melhor, apenas não é meu. Não posso listar nada que me incomode, não são muitas coisas nem poucas – não são listáveis. Apenas não estou onde queria estar, não suo como queria suar: paciência (coisa que não tenho).
Na TV, um documentário sobre um bloco tradicional do Rio de Janeiro: O Cacique de Ramos. De quebra ainda um destrinchar sobre outro que tem se tornado um dos melhores blocos para se perseguir com a família: O Cordão do Boitatá.
Com este último tenho uma relação muito íntima, quase religiosa, me aproprio aqui da tese de Aldir Blanc em letra que veste a belíssima melodia de Moacyr Luz, em Vitória da Ilusão se argumenta: “Carnaval, missa campal do povo brasileiro/ Onde a hóstia sagrada é o pandeiro/ Carnaval, celestial império do trambique/ Onde o crente idolatra o repique...”. E é mais ou menos isso mesmo. Difícil não dar nem que seja uma espiadinha nos desfiles, não acompanhar o Jorge Perlingeiro abrindo os envelopes, dando as notas... Você ali, sentado no chão da sala de estar com amigos depois de uma rabada de boi, depois de passar o final de semana inteiro correndo atrás de blocos de rua no Centro.
Como se cansar saindo atrás do cortejo do Boitatá, em pleno domingo, às 8:00 e continuar no seu baile aberto na Praça XV até às 16:00? E ainda pedir mais! Como se cansar? Comer milho cozido e salsichão o dia inteiro. Bebendo cerveja latão, tomando banho de água de gelo dos isopores... como se cansar? Meu camarada: “só se for agora...”. Mas não é...
As figuras lendárias do meu carnaval de rua: Kimon, o verdadeiro carnaval é ao seu lado. Thiagão e seu chapéu de camisinha da rádio Globo! Renatinha e Brunão, com os roteiros de blocos sempre guardados na bolsa... Esses dois só vejo nessa época mesmo. Pauli e Amoreco... Eu e Preta! Dá-lhe cerveja, dá-lhe barganha com os camelôs... “Só se for agora...”. Mas não é...
Como se cansar de ouvir Moyseis Marques (fantasiado de Moyses!)? Teresa Cristina e sua tradicional camisa de times! Pedro Miranda e sua peruca loira? Ali, cantando no palco do Cordão do Boitatá e a gente lá embaixo pulando no sol escaldante... Torcendo pr’algum camelô jogar pro alto gelo derretido... Dali puxar para Zona Sul, metrô lotado... Fantasia de tudo que é tipo... calor e você: sorrindo. E se me perguntam: “mas hoje você está melhor?” Eu respondo cantando: “Carnaval passional:/ Veias de serpentina,/ A alma de isopor e purpurina...”. Carnaval e carnaval e como diria o jovem Chico Buarque de Hollanda, lá pelos idos de 1966: “Era uma canção, um só cordão/ E uma vontade/ De tomar a mão de cada irmão pela cidade/ No carnaval, esperança/ Que gente longe viva na lembrança...”. E esses irmão, estão aqui, no coração e na lembrança! Bom Cordão do Boitatá para vocês galera!

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