sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

25 de dezembro de 2009

É bom que se saiba que eu estou aqui. E que vejo no natal minha agonia. É bom que se saiba que estou só. Mas que não sinto pena de mim e de ninguém.
E eu estou aqui, mais um natal. Natal que só existiu para mim quando criança. Quando ainda banguela, quando ainda existia O Vila em Realengo. Quando ainda era proibido para mim atravessar a estrada da Água Branca. Quando percorríamos a calçada até o mercado Rio ou até a Casa da Banha para comprar pão de rabanada. O colo da avó, as histórias do avô.
Não, eu não prezo mais pelo natal. Fico agoniado, estou sempre sozinho. Sempre acontece alguma coisa e eu fico só. Há anos a ceia é comida no almoço do dia 24. Há anos minha mãe dá plantão no hospital e agora que está em casa se recolhe para dormir. Meu pai adormece no sofá, logo a acompanha. Fico só. Alguns bons amigos ligam, os de sempre: Thiago, Kátia... Agora tem o Kiko. Atendo o telefone constrangido. Não gosto do natal. Como explicar isso. Músicas natalinas me perseguem até no laptop. Que inferno!
A televisão só passa filmes sobre Jesus. Desenhos sobre o natal. Ensaio um sorriso amarelo. Me recolho e visto a solidão habitual. A noite vai se seguindo, ainda é dia 24. Nas páginas de relacionamento, aquelas mensagens prontas. Todos parecem amar o natal – menos eu.
Vou dormir. Não ouço fogos. Sorrisos. Nada.
Me levanto tarde. É dia 25. Uma chuva fina cai na cidade. Está trovejando. Quantos meses não ouço um trovão? É natal. É o meu natal.

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