sexta-feira, 27 de março de 2009

Pessoa = Pessoas

Há algumas semanas, duas, não mais que três, fui com uma mochila e uma mala de livros, literalmente, para o estado de Sergipe. Fui prestar um concurso, o famoso “concurso de provas e títulos” no qual, acertadamente, todo aspirante a professor universitário federal ou estadual deve ou deveria se submeter. Me submeti. A história tem suas belezas, daria livro ou filme. Não quero livro ou filme. Também não quero falar sobre o sucesso obtido por minha aprovação em primeiro lugar como professor assistente da cadeira de História Antiga e Medieval na Universidade Federal de Sergipe. A questão aqui não é a felicidade, a preocupação, a angústia, a estabilidade alcançada. Não!
Para lá, em tese, fui sozinho. Ou, o famoso “eu e Deus” e, acreditem, “eu e Deus” tem aqui e tinha lá um peso enorme para minha tranqüilidade. Tranqüilidade, aliás, foi o último conselho dado por um amigo, horas antes da minha “primeira partida”. Em tese, eu disse. Apenas em tese.
Querendo ou não, um peso pairava sobre mim: sucesso? Fracasso? – Afinal, o que é sucesso ou fracasso? Percebi, e já havia sentido isso, que não estava sozinho. Levei para lá, companheira, os pais, os amigos. Levei palavras fortes, abraços, conselhos, sorrisos e lágrimas.
Quando pisei na pista, e pisei mesmo, do aeroporto de Aracaju, já não me sentia só. Caminhava conversando com meu pai, ouvia minha mãe, sentia o cheiro dos cabelos da amada. Sorria com os amigos em cada gole de suco de cajá.
Lá conheci aquele que certamente será minha família em Aracaju enquanto e após Ana lá se estabelecer comigo. O nome já me era familiar e o apelido de um tio. Pronto: a paz.
A aprovação é apenas uma conseqüência de uma soma de muitas pessoas. Eram muitas mãos escrevendo comigo naquele auditório com ar-refrigerado que destoava com o forte calor de São Cristóvão, antiga capital de Sergipe. Dois dias depois, sentia a presença deles novamente, me olhando, enquanto eu lecionava sobre “A Crise no Medievo Europeu”.
Eu via seus sorrisos. Via o choro da minha mãe, o orgulho do meu pai, as palmas dos amigos. O abraço do meu primo. O beijo da amada. Eram apenas três pessoas a me observar – isso o que eles pensavam. Para mim, o auditório estava cheio, olhares atentos e confiantes, sorrisos matreiros.
Eu sorria comigo mesmo. Como se dali eu nunca mais saísse – dali nunca mais sairei.
Não sei o que o grande Gonzaga Jr. sentia quando escreveu Caminhos do Coração (Pessoa = Pessoas). De sua história, sei das músicas e de uma ótima biografia que li e sobre ela aqui falei tempos atrás (http://oventriloquo.blogspot.com/2008/09/eu-apenas-queria-que-voc-soubesse.html). A questão é que o que lá encontrei, o que vivi e viverei é exatamente, pura e simplesmente, o que exala a letra da canção.
Só me resta agradecer a Deus, aos pais, a amada, ao primo, aos amigos todos, pois...

Há muito tempo que saí de casa
Há muito tempo que caí na estrada
Há muito tempo que eu estou na vida
Foi assim que eu quis
E assim eu sou feliz
Principalmente por poder voltar
A todos os lugares onde já cheguei
Pois lá deixei um prato de comida
Um abraço amigo
E um canto pra dormir e sonhar
E aprendi que se depende sempre
De tanta muita diferente gente
Toda pessoa sempre é as marcas
Das lições diárias de outras tantas pessoas
E é tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente
Onde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente
Que nunca está sozinho
Por mais que a gente pense estar
É tão bonito quando a gente pisa firme
Nessas linhas que estão
Nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate
Bem mais forte o coração
O coração
Ah! O coração!

(Do Lp Caminhos do Coração – (P) 1982 – EMI Music. Caminhos do Coração (Pessoa = Pessoas) letra e música de Gonzaga Jr. Ed. Moleque.)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Nessa espera

Estou sentado num aeroporto. São aproximadamente cinco da manhã. É uma memória e memórias, às vezes, nos traem como um amor adolescente, um “eu te amo” eterno e assim por diante.
Três cartas escrevi enquanto estive longe, talvez as publique como resquício da memória. Mas a memória, certamente, nos atrai para o abismo do sonho. Num quarto pequeno de hotel. Num apartamento de um amigo. Na biblioteca de uma Universidade Federal.
Eu espero. Assim como espero o meu vôo chegar e eu estou chegando esperando partir em breve. O incerto me deixa cabisbaixo por uns minutos. O meio-termo me desloca para o ambiente do sonho. Percorro ruas, restaurantes e bares. Vejo o mar, sinto sua brisa. São memórias. Sonho acordado na esperança do incerto. Meu vôo chegou: estou voltando para o meu primeiro lar e esperando partir em breve para meu novo lar.