terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Caminhos


Fico aqui pensando quando nós dois cruzaremos a mesma rua. Quando meu braço se esbarrará no teu? São mistérios irreveláveis que nossa imaginação não consegue nem sequer deduzir. Eu estou agora nesse lugar. Por onde andará você?
Termino meu café na esquina, pago com moedas. O jornal disse que vai chover – não tenho guarda-chuvas, porém, guardo em mim uma vontade enorme de te conhecer um dia. Eu espero tanto que seja breve esse dia.
Ainda ontem estive perto do que daqui alguns anos será o apartamento dos teus pais que eu irei visitar num domingo. Eu ainda caminho. Tomo meu ônibus e aprendo francês. Tenho um vazio que parece que ninguém pode preencher, pois se estou acompanhado me sinto sozinho.
Não sei quem é você ou o trajeto que faz da casa para o trabalho, do trabalho para faculdade, não sei se de carro ou a pé. Se estiver sozinha ou com alguém, já nem me importa, no tempo, em algum momento, nossos braços hão de se esbarrar.
Estou ainda na poesia concreta, faço imagens com meus versos. Cuspo poesia como quem vai ao banheiro. Sorrio fundo. Trago cigarros. Ando de trem. Tomo uísque com gelo. Coleciono porres em bares. Freqüento festas com novos amigos e me afasto de alguém. Ontem no rádio ouvi Zeca Baleiro, porém, confesso, prefiro Jair Oliveira. Quem vai saber que um dia os dois irão por nós se unir?
Podemos, talvez, nos encontrar, num corredor, esperando o elevador ou num show gratuito em algum lugar. Sinto que ocupamos os mesmos espaços, mas não sei quem é você. Não tenho uma imagem, um cheiro, tampouco um sorriso para que eu possa realmente saber. Confesso que não desafiarei meu corpo, minha alma por um vão prazer. Até comento com os amigos que estou esperando alguém como você.
Se me perguntarem agora, nessa esquina, no ponto de ônibus: quem é essa menina? Responderei, talvez, um pouco acanhado, simplesmente: é ela. Alguém que não sei quem é, mas hei de saber.
Migrei, então, para versos mais simples. Carregados de uma certa tristeza. Quando eu te conhecer já estarei, praticamente, sozinho e, por sorte, você saberá me compreender, terá paciência e até bom humor para não chorar a resistência que, quase, forçarei você a ter.
Viro a próxima rua, me sento quase em frente de onde está você, eu não sei, você não sabe. Esse será o momento que antecede ao suspiro e ao “para sempre”.
Não me importo com falsos clichês, continuo a fumar, mas percebo que posso morrer sem te conhecer. Até diminuo na bebida, esperando que meu fígado entenda certa abstinência por um amor, que tenho certeza, não será em vão.
Ontem me debrucei próximo aonde um dia vamos nos beijar, um certo ar de cansaço, confesso, havia no meu suspirar. Não ando apaixonado, talvez, porque eu espere você logo chegar. Observo uma exposição que daqui algumas semanas veremos juntos, esperando cruzar nossas mãos. Folheio livros na Arlequim com você longe de mim. Compro uma pipoca no Paço, a mesma que nossa fome um dia matará. Um bilhete de cinema, um filme que está para estrear... Tudo o que ainda não vejo ou vi me preparar para te esperar.
Caminhos que a gente não entende. Língua que a gente aprende e que um dia nem vai usar. Tristezas que a gente passa, só para sorrir quando se encontrar. Pois meu dia sempre acaba na conta última de imaginar quando meus lábios tocaram os teus meu mundo voltou a rodar. Pois o que é o passado o presente futuro? Se agora sabemos no que isso tudo foi dar?



Publicado também em: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/brunoalvaro

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