sábado, 13 de setembro de 2008

Sem o calo da vitória

Confesso que há dias estou pretendendo escrever este texto. Mas esperei, pouco a pouco esperei, o tempo maturar. Pois as palavras são assim para mim, elas demoram a se encaixar no texto – quem me dera fosse assim na vida –, elas já estão ali na minha cabeça, num martelar constante, querendo sair. Porém, acabo ocupando-me com outras imagens e as deixo frouxas num canto da mente e acho que isso as emputesse de tal maneira que quando quero resgatá-las com um fechar de olhos, tenho que forçá-los mais do que de costume para que elas reapareçam. E nem sempre tal sensação é agradável.
Como balbuciei, o tempo fez, mais uma vez, seu trabalho e eis que elas agora podem fluir mais tranqüilamente no papel virtual, elas tranqüilas e eu forçando os olhos – coisa das mimadas palavras!
Uma semana atrás participei de um evento muito interessante que acontece todo primeiro sábado de cada mês: Um Castelo de Palavras.
Ele ocorre no Centro Cultural Municipal Oduvaldo Viana Filho, local mais conhecido como “Castelinho do Flamengo”, realmente e infelizmente, não busquei informações sobre quanto tempo esse sarau poético acontece, ou se ouvi sobre não atentei muito. Só sei que serei um dos muitos freqüentadores assíduos. Isso por dois motivos: primeiro, por tratar-se de um encontro leve e alegre de artistas, em sua grande maioria, poetas, onde ouvimos música, vemos apresentações cênicas e, claro, degustamos poesia. O segundo motivo, jaz no fato de que nele jovens poetas abrem suas gavetas e jogam ao léu seus versos. Esse foi o meu caso. Por isso, forçarei mais um pouco meus olhos e...
Um dia ouvi Chico Buarque explicando os motivos que o faziam ficar tão a vontade em palcos estrangeiros, citando João Cabral de Melo Neto, ele falou sobre a ausência do “calo da vitória...”. Acho que é a melhor analogia para eu destrinchar os motivos que me fizeram sair tão feliz do Castelinho do Flamengo naquele sábado à noite.
Escrevo poemas há, aproximadamente, uns doze anos, acho que um pouco mais, porém, costumo datar meu inicio como poeta a partir de “ARGONNE – 1918 (Carta-poema fictícia)”, datada de 1996. Já a “projeção” como poeta era restrita às namoradinhas platônicas ou às namoradas dos amigos que sempre me encomendavam um poeminha aqui outro acolá, claro, a fama de menino das palavras ficava com o contratante, sendo assim, essa segunda sentença se restringe aos garanhões de treze e quatorze anos que, quando eu tinha a sorte de não ficar sobre ameaças de violências físicas, sempre me davam algum agrado, como ser o primeiro a ser escolhido para o time na hora do futebol da escola.
Os tempos passaram, as coisas mudaram, a timidez sumiu um pouco e descobri que escrever era vício e trazia, além de elogios e críticas, problemas. Um dia me soltei de vez e pegou a alcunha de poeta aqui, poetinha ali, acho que já estava na faculdade, bebia e de quando em quando também fumava. Poeta.
Mas recitar poemas para amigos bêbados, ou para meninas apaixonadas, talvez, até receber elogios em sites para escritores iniciantes é uma coisa. Se expor meio chapado, deprimido ou apaixonado, também. Agora, pôr a cara à tapa, para pessoas nunca dantes vistas, entre elas poetas já até conhecidos no “submundo alternativo da poesia” é, sem dúvida alguma, não contar com o “calo da vitória...”.
E não é que foi bom? Não é que me deixou satisfeito?
Como eu disse, saí do Castelinho do Flamengo leve, falante, pensando em várias coisas, me programando para voltar... e olha que quando meu amigo de carreira Gustavo me convidou para aparecer com ele por lá, eu até pestanejei, mas acho que, na verdade, no fundo, no fundo, cerrei os olhos bem apertadamente para ver se aquelas palavras que eu havia deixado de lado, esquecidinhas num canto da mente, me perdoavam e voltavam para mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que legal Bruno! Eu adoraria participar de um sarau desses no Castelinho! Parabéns e siga firme!