segunda-feira, 14 de julho de 2008

Quanta verdade pode um espírito suportar, quanta pode arriscar um espírito?

Não sei. Realmente não sei. Mas em Ecce Homo, um certo tipo de auto-biografia de Nietzsche, não desmerecendo a obra como um todo, nem os elogios e críticas diversas sobre ela, contém a frase que batiza este texto e que acabou me chamando muita atenção.
Falta, aproximadamente, uma semana para mais um aniversário desse que aqui vos fala sem mexer a boca. E num presente próximo, acabei de ler um belo ensaio num blog que visito com afinco um bom tempo, desde quando ainda era hospedado aqui no Blogger.com.
O texto de Diego Viana, que minha memória não me deixa resgatar a naufraga lembrança de como ou onde nem quando nos conhecemos, versa, com a inteligência e leveza filosófica recorrente do autor, sobre um tema que não me aflige, mas que realmente me interessa: O envelhecimento. Para ler o texto na íntegra clique: http://opensadorselvagem.org/blog/diegoviana/o-envelhecimento-em-seus-primordios/
Mas o que tem haver a frase de Nietzsche com meu inevitável duelo com o tempo? Tudo!
Tudo, pois sempre fui muito inquieto e ando meio estático. Estático dentro de mim. Não sei se por velhice ou por pessimismo, não da velhice, mas da vida.
Não estou para comemorações. Mas ficaria feliz que comemorassem por mim e sem mim. Nunca pensei que um escrito meu falasse tanto aos meus sentidos como o conto O livro enfim publicado (para adquirir a antologia onde ele se encontra clique em: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2309663&sid=16525125310714969739267&k5=1362BED0&uid=) e olha que ele já foi escrito e publicado já faz tempo, mas só agora ecoa em meus ouvidos o sentido para o trecho: Quando me deitei pela última vez dois bares fecharam por consideração. Cinco se abriram. Boêmios recitaram minhas poesias com copos de uísque e caipirinha nas mãos e cigarros entre os dedos da outra – era tudo que eu queria, gente minha, era tudo o que eu queria!
Então me volto ao questionamento de Nietzsche e me respondo não sei! realmente não sei quanta verdade posso suportar, pois nem mesmo minha própria verdade tem me sustentado o espírito.
Ontem sonhei que minha mãe morria. Meu pai morria. Minha mulher morria. Meus futuros filhos morriam. Não sobravam na terra fios condutores sobre minha existência de minutos atrás. Enevoado então me senti e percebi que minha ausência de mim mesmo é só uma petrificada poesia incompleta:
...

Chuvas a fio. Vejo o mundo aos poucos desmoronando. Não tenho muito que escrever. Dois artigos. Um projeto. Algumas provas.
Os muros caem, a lama desce. Ao longe vejo a vida passar ouvindo coisas de amor. Um tiro no olho do pulmão do mundo. Entendeu?
Não são águas de março. As flores deveriam nascer. Não tenho muito que dizer, mas digo:
...

O envelhecimento precoce é pior que o cabelo ralo que antecede à calvície que não tenho. À falta de paciência com os hormônios adolescentes. À magistral contratura do músculo que bombeia meu coração bem mais rápido quando corro ou à falta de ar que me vem toda vez que me lanço às asas da juventude que ainda se reflete em mim.
Sendo assim, não suporto é esta verdade: a de estar envelhecendo precocemente. De não querer sair mais à noite. De nem ao menos no meu próprio alvorecer ter forças para levantar um copo e celebrar minha própria vida. Não suporto o risco de deixar meu espírito me mostrar que não suporta a verdade de que, no fundo, prefiro estar só. Como um poema cristalizado, incompleto pela falta de inspiração e zunidos.
Envelhecer para mim não é ou tem sido o problema, meu maior problema é não suportar minha própria verdade: estou envelhecendo precocemente e porque quero.
Minha ausência de mim mesmo é obra de minha própria eterna poesia incompleta. Do meu paranóico envelhecimento precoce. Envelhecimento de alma. De querer me “ermitar” em alguma caverna longínqua por dias, meses, anos. Por achar que não sou suportável até para quem muito me ama e se deita comigo.
Não sei, mas, quanta verdade pode um espírito suportar, quanta pode arriscar um espírito?

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