quinta-feira, 3 de julho de 2008

Nem sempre nas trevas há só escuridão

Para muitos Francisco José de Goya y Lucientes foi um dos maiores pintores que já existiu. Enfim, não sou crítico de arte. Já conhecia suas obras via Internet, mas me apaixonei quando vi uma exposição pessoalmente em Porto Alegre (de suas gravuras).

As pinturas (e gravuras) mais expressionistas são as que mais me chamam atenção. Pois é nessa sua fase que surge, na minha opinião (pobre opinião), suas melhores obras. E há todo um significado para isso.

Saturno devorando um de seus filhos - Francisco de Goya y Lucientes, 1820-1823
Museo del Prado, Madrid
Image from Museo del Prado
Copyright del Museo del Prado


“Em 1792, numa viagem a Andaluzia, contraiu uma doença séria e desconhecida, transmitida por seu amigo Sebastián Martínez, ficando temporariamente paralítico, parcialmente cego e totalmente surdo. Com a doença, perdeu sua vivacidade, seu dinamismo, sua autoconfiança. A alegria desapareceu lentamente de suas pinturas, as cores se tornaram mais escuras e seu modo de pintar ficou mais livre e expressivo. Parcialmente recuperado, retornou a Madrid no verão de 1793 e continuou a trabalhar como artista da Corte, porém buscou outras inspirações para expressar sua fantasia e invenção sem limite, o que as obras sob encomenda não lhe permitiam.
Devido à doença, Goya passou a não ter mais muito respeito pela aristocracia, expondo nas suas pinturas as verdadeiras identidades e as fraquezas dos modelos. Um exemplo é o retrato do rei Fernando VII de Espanha. Seus retratos deste período mostram, todavia, a sua fascinação pelas mulheres e pelas crianças, não igualada por nenhum outro artista, com a possível exceção de Renoir. Dois retratos de mulheres, executados nessa época, mostram claramente essa qualidade: "Doña Antonia Zarate", orgulhosa, ereta, coquete e algo triste; e a "Condesa de Chinchón", o mais terno de seus retratos de mulheres, no qual o rosto infantil e a postura frágil dos ombros contrastam com o traje elegantemente pintado. Estes retratos foram como um último adeus às alegrias da vida, porque pouco depois Goya se exilou em sua Quinta Del Sordo, em Madrid. As guerras napoleônicas vieram e se foram, e os horrores sofridos pelos espanhóis deixaram um Goya amargo, transformando a sua arte em um ataque contra a conduta insana dos seres humanos, passando a retratar a falta de sentido do sofrimento humano, tanto injusto como não merecido.
Entre os anos de 1810 e 1814, produziu sua famosa série de pinturas "Los Disastres de la Guerra" e suas duas obras primas "El Segundo de Mayo 1808" e "El Tercero de Mayo 1808". Estas pinturas demonstram um uso de cores extremamente poderoso e expressivo. Pela primeira vez, a guerra foi descrita como fútil e sem glória, e pela primeira vez não havia heróis, somente assassinos e mortos.
Em 1821, a Inquisição abriu um processo contra Goya por considerar obscenas as suas "Majas", mas o pintor conseguiu livrar-se, sendo-lhe restituída a função de "Primeiro Pintor da Câmara".
Durante a última parte de sua vida, Goya cobriu as paredes de sua Quinta del Sordo com as famosas "pinturas negras", as últimas e mais misteriosas de seu gênio atormentado. Uma delas, "Saturno Devorando a Uno de sus Hijos" (1821-1823) e que se encontra atualmente no Museu do Prado, é uma das pinturas mais horrendas jamais pintadas.
Em 1824, Goya se exilou na França, vindo a morrer quatro anos depois na cidade de Bordéus.”
(fonte: http://articles.gourt.com/pt/Francisco%20Goya)

Goya me faz refletir sobre o que podemos fazer de bom, produzir de bom com nossas angústias e desesperos. Não pinto. Mas escrevo.

Ainda inspirado por Goya, principalmente por sua famosa frase, título de uma gravura (ou pintura, não sei ou não lembro): "Murió la verdad". Há uma música de uma banda sem pretensões de ser boa ou séria (Camisa de Vênus), mas que traz em muitas de suas letras uma rebeldia e revolta que acho muito interessante. Como a verdade está morta (e nós também), adiciono abaixo uma das letras que mais me amarro (do Lp “Camisa de Vênus” que veio depois do clássico "Batalhões de Estranhos" do famoso single Eu não matei Joana d'Arc, todos os dois de 1983).

O engraçado que essa letra tem tudo haver com o que escrevi sobre a doença de Goya e seu pessimismo, sobre a vida ter despertado nele toda uma maravilhosa "fúria artística". Então termino minha participação de hoje (pessimista como tem sido nessas últimas semanas a minha vida à base de Libitrol) com a música "Metástase" (Marcelo Nova e Franz Hummel):


Marx sacou um dia que andava confuso
Mas havia milhares para ele fazer uso!
Livros vendidos o sistema comprou,
Você aprendeu e então dançou
Mais uma esquerda, outra direita
Mais um ideal e mais uma mutreta
Hitler sacou um dia,
que andava inseguro
Mas já era muito tarde para derrubar o muro
A atitude tinha de ser drástica,
Até morrer pela suástica
Mais um católico, mais um ateu,
Mais um crioulo, mais um judeu
Freud sacou um dia que ele podia pirar
Mas havia centenas para ele analisar
"O seu problema é esquizofrenia,
Agora pague e volte outro dia!"
Mais um que vem, mais um que sonha
Mais um orgulho, mais uma vergonha
O jogo acabou e você perdeu
Era pra subir e você desceu
Agora que já perdeu o trem
Não acredita em mais ninguém
Jesus sacou um dia que iria enlouquecer
Mas havia um rebanho para ele converter
O Pai havia aberto o portão do céu
A cruz estava lá, era seu troféu
Mais um que cai, mais um que gira,
Mais uma verdade, mais uma mentira



metástase
[Do gr. metástasis, ‘mudança de lugar’.]
Substantivo feminino.
1.E. Ling. V. articulação (5).
2.E. Ling. Figura pela qual o orador atribui a outrem a responsabilidade do que alega.
3.Med. Aparecimento de um foco secundário, a distância, no curso da evolução dum tumor maligno ou dum processo inflamatório.

Nenhum comentário: